VAZIAS
VAZIAS é um projeto de investigação artística, pensado e desenvolvido a longo prazo, dedicado à reflexão crítica, experimentalismo, liberdade artística, multidisciplinaridade e sustentabilidade desenvolvido por Beatriz Pereira e Carolina Sendim desde 2021.
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O mesmo desenrola-se em torno da escrita de um inventário de “receitas” autorais, escritas a partir de experiências autobiográficas, temas tabu em relação à indústria artística, dúvidas, inquietações, sonhos e utopias e o seu cruzamento com a linguagem, estética e procedimentos técnicos da culinária. Através deste inventário pretende-se abrir o debate e a reflexão em torno do conteúdo das “receitas” relacionado com paradigmas, cânones, normas, regras e sistemas, abordando questões de identidade, socioculturais e políticas, onde o universo da dança está muito presente.
Para além disso, estas "receitas" surgiram também como forma de nos propormos a desafiar paradigmas e modos de pensar e atuar nas artes performativas, partindo de questões como: Atualmente o que significa ser artista? Qual é a nossa contribuição para o panorama artístico e cultural? Como desabrochar enquanto indivíduos e artistas num oceano de “receitas”?
A vontade/ideia em escrever em formato de receita, inspirando-nos nas receitas de culinária, partiu de um sentimento de frustração e desconexão em relação a um modo de vida centralizado na execução e repetição de “receitas”. Desde pequenes que o nosso principal método de aprendizagem se dá através da repetição. Repetimos palavras, comportamentos, modos de falar, vestir, andar, dançar, comer, pensar, escrever, enfim múltiplas ações e formas de expressão. No entanto, acreditamos que este processo de aprendizagem e adaptação não deve comprometer os lugares da autodeterminação, da autonomia, da iniciativa própria e da imaginação, nem limitar os espaços dedicados à brincadeira, à criatividade, ao aborrecimento, à experimentação e ao erro.
VAZIAS is a long-term artistic project anchored in the autobiographical archive, reflection on the meaning of "recipe" and the desire to explore and develop sustainable artistic practices.
The need to reflect on the meaning of the word "recipe" came from a feeling of frustration and indignation about a way of life centred on the execution and repetition of "recipes". Ever since we were little, our main method of learning is through repetition. We repeat words, behaviours, ways of speaking, dressing, walking, dancing, eating, thinking, writing, in short, any and all actions and forms of expression.
However, it is natural that during this process of learning and adapting, there are moments of friction and frustration, where the past and the present clash and where we can sometimes have the feeling that we spend most of our time repeating "recipes" stipulated by others and ultimately by a robust and complex social structure. Consequently, the places of self-determination, autonomy, self-initiative, invention and experimentation are compromised, limiting the spaces dedicated to play, creativity, boredom and the extrapolation of ideas. It is therefore crucial to stimulate the development of critical thinking and to continually fight for the right to self-determination.
Thus, the project developed around the writing and research of an inventory of authorial "recipes", written around the autobiographical universe and its intersection with the language, aesthetics and technical procedures of culinary, with the purpose of opening up debate and reflection around their content, mostly associated with paradigms, canons and cycles, essentially correlating with issues of identity, socio-cultural and political, where the universe of dance is very present.
In addition, these "recipes" also emerged as a way of reflecting on the idea of artistic identity, raising the questions: Nowadays, what does it mean to be an artist and how do we relate to the existing canons? Creating what, why and for whom? What is our contribution to the artistic and cultural scene? What paths do we want to open and follow? How do we blossom as individuals, as artists in an ocean of "recipes"? Who and what do they serve?